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O perdão é necessário para encontrar a paz?

Recentemente li um livro de autoria do amigo Rossandro Klinjey sobre o perdão e tive grandes reflexões sobre a busca de alívio da mágoa e da dor emocional causada por inúmeras situações que podem ficar mal resolvidas no tempo e no espaço com pessoas que em algum momento de nossas vidas nos eram muito queridas.

Nós lutamos com a questão do perdão, com nosso ego, nossas vaidades, nossos orgulhos feridos e tantas questões que podem ter ficado em aberto em nossa jornada pela vida. Já foi dito em livros, filmes, por familiares, provérbios, que o ato de perdoar é a maior das virtudes e a mais elevada forma de amor. No entanto, como perdoamos alguém que nos feriu, mas não conquistou nosso perdão? O que você faz quando o transgressor fica na defensiva demais para aceitar o que você está dizendo, pois nunca sentirá genuinamente que tem algo pelo qual se desculpar ou simplesmente não parece entender?

Essas são algumas das questões que podem desafiar nosso pensamento, nossas convicções e nos fazer refletir e ponderar o quão flexíveis podemos ( ou queremos) ser.. Portanto, quando falamos de perdão, não de trata apenas de 'pedir desculpas'. O quanto você se perdoa por ter se doado tanto? Por ter acreditado tanto em uma pessoa, situação ou instituição?

Muito foi escrito sobre o perdão. Vivemos em uma cultura que defende a virtude e a necessidade do perdão e nos incentiva a perdoar as pessoas que nos magoaram. Algumas das crenças mais comuns são que não há paz sem perdão, que apenas o perdão pode libertar a parte ferida de manter a raiva e ódio e que é uma necessidade para uma boa saúde física e mental. Embora muitas pessoas possam usar a palavra “perdão”, na verdade não estão falando sobre perdão. Em vez disso, estão se referindo ao desejo de não sentir mais emoções intensas, como raiva, amargura e ressentimento. “Eu quero perdoar” geralmente se traduz como “Eu quero superar isso e encontrar um pouco de paz de espírito”. Palavras ou frases como “resolução”, “desapego”, “seguir em frente” ou “deixar ir” podem descrever melhor o que procuram.

A confusão de deixar ir com perdoar é freqüentemente o que mantém as pessoas emocionalmente presas.Então, o que é deixar ir? Em primeiro lugar, deixar ir não significa esquecer ou tolerar o mau comportamento da outra pessoa. Não se trata de absolver o malfeitor de suas ações. Você sabe o que aconteceu e está 'alerta' para que a situação não lhe machuque outra vez. isto sim é importante para sua paz de espírito!

Muitas pessoas usam a palavra para designar a experiência de se livrar da mágoa com o passar do tempo. Eles querem encontrar alívio desabafando por causa de tanta raiva e dor. Trata-se de aceitar a realidade de que algo aconteceu, mas o transgressor é inalcançável ou talvez já esteja morto há algum tempo e temos a escolha de continuar a carregar esta dor em nossa mente ( ou não). Claro que todos nós queremos sofrer menos, mas estamos inclinados a continuar fazendo coisas que nos impedem de nos resolver e de abandonar. Entre os fatores que podem impedir as pessoas de seguir em frente estão a necessidade de justiça e nossa tendência a levar as coisas para o lado pessoal.

Portanto, podemos escolher nos proteger dos efeitos prejudiciais de permanecer presos ao passado. É reconhecer que a raiva e a amargura crônicas geradas por nutrir ressentimentos e guardar rancores nos roubam a energia para viver plenamente no presente e planejar o futuro.

Não existe um caminho único para a cura, portanto, abandonar significa fazer uma escolha consciente de reagir de maneira a facilitar a liberação de nosso fardo de raiva e ressentimento.

Algumas pessoas consideram a palavra perdão um alto padrão espiritual e procuram perdoar o transgressor não arrependido no sentido espiritual mais profundo da palavra. Para eles, o perdão pode ser uma parte fundamental de suas crenças religiosas ou central para sua visão de mundo. Para outras pessoas, o perdão é uma forma de amor e compaixão que é possível até mesmo para os atos mais hediondos e as situações mais horríveis. Nessa perspectiva, o perdão envolve reconhecer a dor do transgressor e desejar que ele seja feliz e esteja bem.

Se você ainda não consegue perdoar a pessoa integralmente, está tudo bem também! Lembre-se que cada um tem um tempo na caminhada evolutiva, não apresse nada! Existem muitos caminhos para o alívio emocional que não requerem perdão.

Dica de Livro

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