Pular para o conteúdo principal

Violência psicológica: uma violência sem marcas (aparentes)

Recentemente, uma lei contra a violência doméstica e familiar foi sancionada e publicada nas páginas do Senado Federal. Trata-se da Lei 14.188 de 2021, pertencente ao programa Sinal Vermelho.

Muito se sabe sobre a violência doméstica, principalmente nas modalidades física e sexual, mas não menos importante e igualmente destruidora, é a violência psicológica, que por ser "sem marcas", não aparece para a sociedade. A violência psicológica é um tipo de agressão que traz danos ao emocional, fere o equilíbrio afetivo, a capacidade de tomar decisões e o estado de bem-estar necessário que para que o indivíduo possa viver com dignidade.

Um dos fatores que está geralmente ligado à violência psicológica é a dependência afetiva da vítima. A carência afetiva que a vítima passa a faz manter uma certa cumplicidade com tais sofrimentos, associa que o parceiro com temperamento explosivo é o protetor, o ciúme como demonstração de carinho ou manter o relacionamento a todo custo. No entanto, é também verdade que a pessoa dominada, na maioria das vezes, tem baixa autoestima, um provável reflexo de opressões e angústias vivenciados em seu histórico.

A dependência financeira também é um dos fatores que mantem este elo entre vítima e dominador.

A violência psicológica é crime, e faz parte do artigo 7º da lei Maria da Penha, sendo caracterizada por “Constrangimentos, ridicularização e perseguição, entre outras ações causadoras de danos emocionais”.

A vítima de violência psicológica passa por situações psiquicamente crueis, pois ela começa a duvidar da sua própria capacidade de julgamento das situações. Isto porque geralmente o agressor consegue fazer a cabeça dela, criando um laço de dependência difícil de ser quebrado. Deste modo, a vítima passa ater um comportamento mais arredio, se anula, se enfraquece emocionalmente e se afasta de pessoas queridas. Para não repetir as humilhações ou xingamentos, ela cede às vontades do agressor na tentativa de criar uma convivência harmoniosa, mesmo que isso implique em sabotar a sua própria felicidade.

Além disso, a vítima passa a mudar em outras esferas de atuação, por exemplo, deixa de estudar ou trabalhar com afinco ( se não largar o emprego!), de contatar amigos, de cuidar da saúde e da aparência, de fazer planos futuros, ou até mesmo de sair de casa. A longo prazo, essa forma de violência também causa diversos transtornos mentais severos, como ansiedade, síndrome do pânico, estresse pós-traumático e depressão. Provavelmente, todos nós, ainda que num nível superficial, vivenciamos algum desses tipos de violência psicológica. Na escola, em casa, no trabalho, entre conhecidos, na rua, fomos vítimas ou quem sabe agressores. Daí a importância de tomarmos consciência do mal que podemos fazer e renunciar a esse tipo de atitude.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

O Carnaval e a Psicologia: Reflexões sobre a Identidade, Liberação e Expressão Emocional

O Carnaval é uma das festas mais emblemáticas e celebradas no Brasil, reconhecido mundialmente por suas cores vibrantes, danças animadas e um ambiente de descontração e alegria. Porém, além de ser um evento cultural e social, o Carnaval também apresenta aspectos profundamente ligados à psicologia humana. Durante essa festividade, as pessoas se entregam a uma experiência coletiva de liberdade, descontração e, muitas vezes, até de transformação pessoal. Neste artigo, exploraremos como o Carnaval pode ser compreendido sob a ótica psicológica, destacando seus impactos nas emoções, na identidade e no comportamento coletivo. A Libertação das Normas Sociais No contexto do Carnaval, há uma suspensão temporária das regras sociais que normalmente regulam os comportamentos. A psicologia social já abordou como as normas sociais influenciam nossas atitudes, comportamentos e interações. Durante o Carnaval, muitas dessas normas são suavizadas, o que cria um ambiente mais permissivo. A fantasia,...

Como entender o trauma a partir de um olhar espiritual?

O trauma e a espiritualidade são temas profundamente conectados, especialmente quando se trata de como as pessoas enfrentam experiências dolorosas e como isso pode impactar sua jornada espiritual. Muitas vezes, o trauma pode afetar a visão de uma pessoa sobre si mesma, os outros e até mesmo a sua relação com o divino ou com a espiritualidade em geral. Como o trauma pode afetar a espiritualidade? 1. **Perda de fé ou crise espiritual**: O trauma pode abalar a fé de uma pessoa, especialmente quando ela se sente abandonada ou questiona o propósito de sofrer. Isso pode gerar uma crise existencial, onde a pessoa questiona se há algum sentido no sofrimento ou se existe um poder superior. 2. **Busca por cura e sentido**: Por outro lado, muitas pessoas buscam na espiritualidade uma maneira de processar o trauma. A prática religiosa ou espiritual pode ser uma fonte de consolo, permitindo que elas encontrem um sentido maior para a dor que experienciaram, ou até mesmo um caminho para a cura em...

Mecanismo de Defesa: Introjeção

A introjeção é um mecanismo de defesa psíquica descrito pela psicanálise, que envolve a internalização de valores, crenças, normas ou sentimentos de outras pessoas, geralmente figuras significativas como pais, professores ou outras autoridades, de forma inconsciente. Essa internalização pode acontecer em resposta a experiências emocionais, influências externas ou contextos que ameaçam a identidade do indivíduo. O Conceito de Introjeção Na psicanálise, a introjeção é entendida como uma forma de defesa do ego diante de um conflito ou ansiedade interna. O conceito foi originalmente formulado por Melanie Klein, psicanalista que teorizou os mecanismos de defesa como formas de lidar com tensões emocionais. Para Klein, a introjeção é o processo em que a pessoa assimila aspectos do mundo externo, como os sentimentos e pensamentos de figuras importantes, e os incorpora como se fossem suas próprias ideias e sentimentos. Essa incorporação pode ser saudável em alguns casos, como quando o indi...